sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Psiquê & Literatura

Toda obra literária genuína reproduz uma experiência humana e ensina algo acerca do eu e do outro.


A literatura exerce funções humanísticas desde a antiguidade. Aristóteles enaltecia as atividades desta arte, que para ele centrava-se especialmente no grau catártico, tornando o leitor mais sensível, humano e cordial. A função catártica ou catarse, apontada por Aristóteles, é aquela que faz com que o leitor purifique os seus sentimentos ao se defrontar com uma obra literária.

São indiscutíveis as relações existentes entre a arte literária e a psicopatologia, no sentido de que o sofrimento e as manifestações incomuns do espírito tem dado origem a grandes criações na tragédia e no romance.  A psicologia não raramente utiliza como fontes de estudo Hamlet ou Dom Quixote. Com Freud (1924), a tragédia de Sófocles foi analisada com pleno êxito. Há assim uma possibilidade de colher, nas grandes obras artísticas, subsídios à compreensão do adoecer psíquico.

É sabido que o ser humano aprende mais facilmente através de algo que desperte paixão, e as artes tem esse poder. Ouve-se uma música bonita e, sem esforços, ela invade o intelecto e ecoa mentalmente durante anos, vê-se uma imagem impressionante e recorda-se dela anos depois com a mesma intensidade. Tal magia se estende às artes literárias.

Nas tragédias de Shakespeare há um saber sobre o sofrimento psíquico e suas consequências que nas monografias feitas com questionários, testes e corretas correlações estatísticas não é cortejado. Jean Valjean (Victor Hugo) e Raskolnikov (Dostoievski), personalidades intrigantes comoventes e envolventes, – não redutíveis a simples casos típicos de tratados –, nos ajudam mais na compreensão do outro que a leitura de criteriosas observações de analistas. Acresce-se a isso o poder passional da arte de penetrar a memória e ali fixar-se, condensando ainda melhor o conhecimento adquirido.

Supõe-se que uma bagagem cultural refinada funcione como uma lente, polindo a visão humanística e, por conseguinte, facilitando a compreensão do ser humano. A expressão literária, – palco de vivências emocionais que despertam a empatia do leitor –, traz a chave para desvendar o homem em relação ao que pensa, sente e ao caminho que pretende seguir.

“Personagens no Divã” objetiva mostrar os caminhos percorridos por cada personagem em encontro a sua própria razão de existir.
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário